20.7.06

ALGUNS DADOS DA COMPANHIA

A nossa Companhia era independente e foi constituída, no 2º semestre de 1969, no Batalhão de Infantaria Independente 17 (BII 17), sediado em Angra do Heroísmo, na Terceira – Açores, simultaneamente com as Companhias de Caçadores, Independentes, 2674, 2675 e 2676, passando a ser o BII 17 a Unidade Mobilizadora destas Companhias.

Os Comandantes das outras Companhias eram:
- CCaç 2674 - Capitão Miliciano João da Silva Santos
- CCaç 2675 - Capitão Miliciano Raul Manuel Mendes Barros Leite, substituído em Angola, em Novembro de 1970, pelo Capitão Miliciano Bernardino A. L. Cabrita
- CCaç 2676 - Capitão do QP António Alves Martins

Em 14 de Agosto de 1969 apresentou-se no BII17 o Comandante da Companhia Helder Fernando Vagos Lourenço, Capitão de Infantaria do QP.

Em 13 de Setembro de 1969 teve lugar o Juramento de Bandeira e terminou a Instrução Básica (IB) da 3ª ER/69 - OS nº 216 de 13Set69 do BII17. A cerimónia do Juramento de Bandeira, presidida pelo Comandante do Comando Territorial Independente dos Açores (CTI Açores), foi precedida de missa celebrada pelo Sr. Patriarca das Índias Orientais, D. José Vieira Alvernaz acolitado pelos padres José M. das Neves e J. Andrade  bem como pelo Capelão-militar da Unidade, Reverendo Júlio Pereira (Diário Insular de 14Set69). Houve depois o discurso do Comandante da Unidade, TCor Orlando da Silva Andrade, o Aspirante António Estácio fez a alocução habitual nesta cerimónia. (conforme informação do ex-1º Cabo José Eduardo Martins e notícia do Jornal do BII17 "O Castelo" nº49 de 1.10.1969), após o que houve o juramento propriamente dito, seguindo-se o desfile das forças em parada.

FORÇAS EM PARADA

DESFILE
DESFILE

ALF ESTÁCIO A PROFERIR A ALOCUÇÃO

Em 15 de Setembro de 1969 teve início a Instrução da Especialidade (IE) da 3ª ER/69 - OS nº 216 de 13Set69 do BII17. Na mesma data teve início a Escola de Cabos.

Esta instrução da Especialidade já foi com os Comandantes da Companhia e Graduados que iriam nessas Companhias para o Ultramar.

Em 25 de Outubro de 1969 terminou a Instrução da Especialidade (IE) da 3ª ER/69 - OS nº 256 de 30Out69 do BII17.

Em 1 de Novembro de 1969 constituíram-se as Companhias 2674, 2675, 2676 e 2677 - OS nº 258 de 3Nov69 do BII17

Em 11 de Setembro de 1969 chegou ao BII 17 o Comandante da futura CCaç 2677, Capitão Helder Fernando Vagos Lourenço, juntamente com o Comandante da futura CCaç 2676.

O jornal Diário Insular dos dias  10 e de 14 de Setembro de 1969 referiu o programa e a cerimónia do Juramento de Bandeira ocorrida em 13Set69.

Segundo o Jornal A União de 13 de Novembro de 1969, os Comandantes das quatro Companhias visitaram o Movimento Nacional Feminino na sua Sede em Angra onde receberam 8000 aerogramas, 4 bolas de basquetebol e 4 bolas de futebol


Depois de terem tido umas curtas férias, nos termos das NAPU, em Novembro de 1969, em datas diversas, o pessoal embarcou para o Continente nos navios Angra do Heroísmo e Carvalho Araújo, para completar a Companhia com os especialistas e iniciar a Instrução de Aperfeiçoamento Operacional (IAO).
 
NAVIO ANGRA DO HEROÍSMO

NAVIO CARVALHO ARAÚJO

Chegados ao Continente em Novembro de 1969, ficámos aquartelados no Campo Militar de Santa Margarida para iniciarmos o IAO, fase da instrução onde se juntavam os especialistas e, onde, em ambiente similar ao do Ultramar, se procuravam criar situações e treinar procedimentos que nos capacitassem a enfrentar o que viéssemos a encontrar, por exemplo, saltar de helicóptero, efetuar acampamentos em deslocamentos, ações noturnas em zonas de mata, etc. Recebíamos o camuflado e éramos vacinados. Passada uma semana fomos transferidos para Regimento de Infantaria nº15 (RI 15), em Tomar (Quartel Novo)

Esta fase da instrução, que terminou a 22 de Dezembro, culminava no embarque para o Ultramar que estando previsto para 5 de Janeiro de 1970 não se chegou a concretizar. Porque estava a chegar novo contingente de tropas ao Regimento e não havendo alojamentos, o Pessoal foi transferido para o Quartel Velho do RI 15 constituído por equipamento muito degradado. As fortes chuvadas que se fizeram sentir próximo do Natal, inundaram as instalações, ficando tudo alagado e a boiar as caixas de roupa, em madeira e outros pertences do Pessoal, pelo que face à indignidade das condições fomos transferidos para o Campo Militar de Santa Margarida (CIM), onde continuámos a fazer, ao que denominavam, a 2ª parte do IAO até à data de embarque. 

No dia 21 de Janeiro pelas 10H30 teve lugar a entrega dos Guiões às Companhias (2674, 2675, 2676, 2677 e 2678). A cerimónia realizou-se frente à capela do Campo Militar, antecedida de missa celebrada pelo Ordinário Castrense, D. António dos Reis Rodrigues, seguindo-se o desfile.

1969 – TOMAR – EXERCÍCIO DE EMBARQUE E DESEMBARQUE EM HELI (ALOUETTE III) 

Em 26Mar70 o pessoal foi embarcado num comboio no cais da CP de Sta Margarida da Coutada tendo desembarcado no cais da Rocha Conde de Óbidos, Alcântara, em Lisboa e aqui, após despedidas das famílias e as formaturas habituais, embarcou no navio NRP “Pátria” com destino a Angola. O navio deixou o cais às 12h25, iniciando-se a contagem para uma comissão de, pelo menos, 24 meses. O navio passou pelo Funchal para embarcar uma Companhia Madeirense. Chegámos a Luanda a 5 de Abril.

NAVIO PÁTRIA

Em Luanda, enquanto os militares desembarcavam do navio Pátria, já à noite, os Comandantes de Companhia reuniam-se com representantes do QG/ZMA, numa sala do navio, para sortear os destinos de cada uma das Companhias.

Fomos transportados de comboio para o Campo Militar do Grafanil, onde, numa noite invernosa recebemos material, equipamento e ordens de marcha. 

Na madrugada de dia 6, por volta das 6 da manhã avançou para o Luquembo o que se designa por uma Secção de Quarteis, constituída pelo 2º Pelotão e algumas Praças especialistas nos quais se encontravam o 1º Cabo Reab Mat Pereira Coelho, uma Praça de Transmissões e um Cabo auxiliar Enfermeiro. Embarcaram no aeroporto de Luanda no avião Noratlas, conhecido por barriga de ginguba, com destino ao aeroporto de Malanje. Aqui foram embarcados em camiões civis e transportados sob escolta do pessoal da CArt 2337 (BCaç 2859), Companhia que íamos render no Luquembo.

NORATLAS DA FORÇA AÉREA PORTUGUESA, 
mais conhecido por “Barriga de ginguba”

Ainda em Luanda, a restante Companhia embarcou em viaturas civis que constituíam o MVL, ficando nas mãos dos motoristas a nossa chegada ao destino!!!pois só eles sabiam o itinerário. Depois de passar pelo Dondo, Salazar (agora N’Dalatando) e Malanje, aqui fizemos um alto a fim de receber instruções do Comandante de Batalhão de Caçadores 2859 (BCaç2859) responsável pela ZMN/Sector Malanje, onde a Companhia atuará em reforço, sendo-lhe atribuído o Subsector Luquembo.
 
Em 7Abr70 a restante Companhia chegou ao Luquembo (marca à esquerda, em baixo, no mapa), onde estacionou o Comando e os 1º, 2º e 3ºGC, tendo o 4º Pelotão/GC mais os especialistas necessários seguido, ainda nessa noite, para Sautar, como Destacamento (marca à direita, em baixo no mapa).

MAPA DE ANGOLA


Este Batalhão tinha as outras Companhias sedeadas em: CCaç 2458-Forte República; CCaç 2459-Nova Gaia, CCaç 2460-Marimba.
Tínhamos, em reforço, o Grupo de GE 206 (30 homens combatentes, voluntários de etnia local, armados com espingarda Mauser 7,9, suportados pelo Exército através da unidade estacionada em Sautar). Estes Grupos Especiais de tropas irregulares reforçavam Subunidades tipo Companhia e foram constituídos em Julho de 1969 e extintos em Abril de 1974.

CONCENTRAÇÃO EM SAUTAR
Em 5Set70 a Companhia concentrou-se em Sautar, em consequência da reorganização do dispositivo operacional na Região Militar de Angola (RMA), passando a atuar em reforço do BArt 2883 que entretanto estaciona o seu Comando e CCS nas instalações deixadas no Luquembo e passa a ter à sua responsabilidade o Subsector Luquembo da ZML/Sector do Bié. Este Batalhão veio de Bessa Monteiro (ver a sua história em (http://bart2883.blogspot.com/2009/09/historia-do-batalhao_1398.html).

Em 26Set70, pelas 19H30, a Companhia sofreu um ataque em Sautar, tendo o inimigo aproveitado a circunstância de, antes da mudança, não terem sido construídas instalações para alojar o pessoal e arrecadar o equipamento, o que só veio a acontecer muito mais tarde. Houve necessidade, entretanto, de aproveitar algumas construções tapando-as com adobes (massa de barro com capim secos ao sol) e ocupar algumas instalações civis. Mais tarde construiu-se um quartel novo utilizando chapas próprias para o efeito (tipo MC). 

DESLOCAÇÃO PARA BESSA MONTEIRO (agora Kindeje), ao fim de 18 meses de comissão
Com a reestruturação do dispositivo operacional, em Angola, já mencionado, a Área Militar nº 1 (AM1) recebeu as regiões de Bessa Monteiro e Toto. Assim, Bessa Monteiro que era ocupada por um Batalhão, passou a ser por uma Companhia (a CArt 2561 e depois a nossa).
- Em 15Set71, fomos rendidos pela CArt 3402, em Sautar, tendo o 1º escalão da Companhia marchado para Bessa Monteiro (Kindeje), via Luanda (marca em cima no mapa).
- Em 22Set71, marchou o 2º escalão para Bessa Monteiro (Kindeje).
A nossa Companhia substituiu a CArt 2561 (BArt 2883), em Bessa Monteiro (Kindeje), passando a actuar na AM1, ficando em reforço ao BCaç 2910 sedeado no Toto, que, em Outubro de 1971, foi substituído pelo BCaç 3855.
- Em 23Out71, em Bessa Monteiro, fomos reforçados com dois Pelotões, comandados pelos Alferes António Augusto Ramos Novo e Augusto Magalhães Santos da CCaç 3437 pertencentes ao BCaç 3855, com sede no Toto (ZMN/AM1). 

FINAL DA COMISSÃO:
- Em 14Abr72, a CArt 3516 que iria render a nossa Companhia, chegou a Bessa Monteiro. Assim, o 1º escalão da CCaç 2677 marchou de Bessa Monteiro para Luanda (C.M. do Grafanil), ficando a aguardar embarque;
- Em 17Abr72 marchou para Luanda, por via aérea, o Comandante de Companhia, 1º Sargento Catarino (Mat de Guerra) e Furriel Mecânico Gonçalves, afim de tratar da quitação da Companhia;
-  Em 20Abr72 o 2º escalão da Companhia marchou de Bessa Monteiro para Luanda (C.M.do Grafanil) ficando também a aguardar embarque;
- Em 25Abr72 o pessoal embarcou nos Transportes Aéreos Militares (TAM) de regresso à “Metrópole”. 
- Em 8Maio72 regressou à "Metrópole" o Comandante de Companhia e os elementos que com ele ficaram a fazer a “quitação” da Companhia.

OUTRAS INFORMAÇÕES CURIOSAS:
- Em Luquembo e Sautar íamos fazer o Reabastecimento a Malange. Tínhamos um reabastecimento aéreo de frescos, que também transportava o correio, uma vez por semana, com uma avioneta pilotada pelo piloto Ribeiro.
- Pertencia à nossa zona de acção a área de Capunda, reserva da Palanca Negra (símbolo nacional de Angola).
- Em Sautar havia dois comerciantes civis o Arlindo (branco) e o Mário (mulato).
- Em 05Set70 o Comando do BArt 2883, que estava em Bessa Monteiro, instalou-se no Luquembo, assumindo a responsabilidade do Subsector do Luquembo, ficando integrado no Sector do Bié, na Zona Militar Leste, com o seguinte dispositivo:
*CMD e CCS/BArt 2883 - Luquembo
*CCaç 202 - Luando e Mussele
*CCaç 2455 - Nova Gaia e Quitapa
*CCaç 2677 - Sautar
Em Setembro de 1971 o BArt 2883 foi substituído pelo BArt 3853, com o seguinte dispositivo:
*CMD e CCS/BArt 3853 - Luquembo
*CArt 3401 - Luando
*CArt 3402 - Sautar
*CArt 3403 - Nova Gaia

- Em 01Out70, decorrente do ataque havido em Sautar, realizou-se, nesta localidade, uma reunião com as entidades civis, estando presentes o Comandante da ZML Brigadeiro Bettencout Rodrigues, o Governador de Distrito de Malange, o Chefe do Estado-Maior da RMAngola - Coronel Altino de Magalhães, o Comandante do Batalhão de Artilharia 2883 - Ten Coronel José Francisco Soares, o Oficial de Operações do Sector do Bié, o Comandante da PSP de Malange, o Administrador de Sautar e o Inspector da DGS.
- Em 25Mai71 uma equipa da JAE/Silva Porto iniciou os trabalhos de construção, a título definitivo, da ponte sobre o Rio Cussique, prevendo-se a duração de 45 dias;
- Em 13Jul71 uma brigada da JAE/Bié chegou ao Rio Cussique para proceder à reparação dos acessos;
- Em 07Ago71 os GE206 procederam à construção do seu Aquartelamento e lavras em Sautar, com casa de tijolo e telhado de zinco.
- Em Bessa Monteiro fomos estacionar numa área que já era ocupada por uma Companhia. Anteriormente a Unidade instalada era de efectivo Batalhão (último o BArt 2883). Este tinha um Destacamento em Baca, de efectivo Companhia, que fora desactivado. A última Subunidade foi a CArt 2559 (BArt 2883). Naquele local, em anos anteriores, passara por lá o  Ten Coronel António Spínola.
- Íamos a Ambrizete fazer o reabastecimento, passando pelas curvas do "afamado Pedro". Pernoitava-se na pensão da "Madrinha" e refrescávamos as "goelas" no "Brinca na Areia".

PENSÃO DA MADRINHA


3 comentários:

João Ratão disse...

Saudações a todos!

Torna-se necessário fazer uma ou outra correcção ao que foi escrito. Pode parecer um atrevimento da minha parte, pois não fiz parte da CCAÇ 2677. No entanto fiz parte do BART2883, várias vezes citado e que tiveram uma estadia em Angola que foi curiosamente muito próxima.
Bem, a maior imprecisão consiste na repetida afirmação de que o BART2883 esteve sediado em Malange, de onde saiu para, numa reestruturação de quadrícula, se instalar no Luquembo, "desalojando" a CCAÇ2677 Pois bem, o BART2883 veio directamente de Bessa Monteiro para o Luquembo e nunca esteve em Malange (a não ser de passagem, claro...). Veio transportando todo o seu material desde tachos e panelas, camas e cobertores, mesas e máquinas de escrever, viaturas e armamento, etc, etc, numa operação que julgo ter sido inédita.
Eu era o Alferes Sapador do BART 2883 e sei...
No fim, é curioso que a CCAÇ vá terminar a sua comissão de serviço onde o BART a tinha começado...

Um abraço a todos,
JGTF

Celso dos Santos disse...

Um bom dia camaradas
Eu estive em Sautar, foi a comp. 3402 que vos foi render, era enfermeiro, gostaria de trocar contactos com algum de vós.
Parabéns pelo vosso bloog
O meu email está em baixo.
Um abraço camaradas de luta
Celso

Anónimo disse...

estive em Ambrizete no ano de 1972 e conheci Bessa Monteiro Onde ate estava um conterraneo. Abraço a todos